quarta-feira, 2 de março de 2016

Don't worry, be Hampi!



Antônio,

Depois de uma noite inteira e mais metade do dia viajando de ônibus em ônibus, eu finalmente cheguei na mágica Hampi! Uma cidade que todos que haviam cruzado o meu caminho até então me disseram que eu tinha que conhecer. Fui lá, então.
Uma felicidade instantânea logo me invadiu ao pisar naquele chão de terra batida, que era igual aos outros chãos que eu andava pisando, mas meus chinelos estavam mais à vontade.
Ao descer do ônibus fui caminhando por uma rua muito larga que dava de cara num super templo que naquele sol ficava ainda mais bonito! A mochila nem pesava nas costas, caminhar só me fazia bem e segui até o rio, onde um barquinho de madeira me levou até a outra margem.

O templo já no primeiro olhar.

Lá chegando minha alegria só aumentava, as pessoas que eu via me alegravam, o calor me esquentava e isso era bom. Descolei um lugar pra ficar relativamente barato (300rs) que era uma cabana de barro bem simples, com telhado de palha, uma cama de alvenaria e um cortinado para me proteger dos mosquitos, um colchão horrível e nada mais. Eu estava super feliz com minha casa nova na beira do rio. Nessas horas você percebe o que realmente precisa e uma cabana de barro muitas vezes é mais que o suficiente.

Minha cabaninha azul de porta aberta. 

Depois de devidamente alojado fui dar umas bandas para explorar a cidadezinha e comer alguma coisa depois da longa viagem. Logo encontrei um casal de franceses conhecidos que me indicou um restaurante. Segui meu caminho bem devagar, olhando tudo e todos, descobrindo um mundo novo a cada passo. Foi em Hampi que eu pude ver os campos de arroz de perto, eu pude andar nos campos de arroz, você sabe o que é isso? Sonho realizado, malandro! Que paz era caminhar pelos campos de arroz ao amanhecer.

Arroz, pedra e coqueiro, cada ingrediente na medida certa.

Não era só isso, algo acontece em Hampi, pode ser uma coisa do tal sul da Índia, não consegui descobrir.

Só posso te dizer que tem uma certa magia.
As gatas com seus vestidos de alcinha. . . Depois de tanto tempo no frio do norte eu já nem me lembrava direito de como eram os ombros femininos. E que gatas! Todas as mulheres que eu vi naquela cidade eram lindas, lindas, todas. Cada uma no seu estilo, com seu sorriso, todas apaixonantes. Com seus ombros e pernas de fora, mostrando tatuagens antes escondidas, com a pele já queimada pelo sol umas até desfilavam orgulhosas com suas marquinhas de biquini. Nada que se comparasse a uma marquinha de biquini cultivada nas areias cariocas, que há quem diga que até brilham no escuro! Para isso são necessários anos de treinamento, genética privilegiada e certidão de nascimento com RJ escrito em algum lugar, não se ensina, não se aprende. Isso, no entanto, não diminuía em nada a beleza daquelas mulheres com vestidos estampados e botas sujinhas de terra, uma mistura exótica e interessante.

Muitas com os namorados, outras sem.

Poucas com sutiã, muitas sem.

O que me alegra muito, sou fã declarado dos seios livres, acho essa liberdade das mulheres uma coisa incrível. Imagine você, moleque, que as mulheres passam quase dois terços da vida de sutiã, com aquele aparato ali apertando tudo pelo bem da sociedade. Claro que o sutiã é uma coisa que eu também adoro, tem suas funções que eu compreendo e tirar aquele sutiã especial é sempre uma atividade prazerosa. Só acho que seu uso é exagerado, já vi uma gatinha de quatro anos que queria um sutiã de presente de Natal! Não vejo nenhuma função que um sutiã possa desempenhar pra ela, mas ela achava que precisava de um. Tantas outras coisas bem mais legais ela podia querer. Nem sei se o Papai Noel faz sutiã!

As belezas naturais de Hampi, todavia, não dependiam só de loiras, morenas, negras e ruivas desfilando por todos os lados, Hampi é muito mais que isso. Com seus “boulders” espalhados a toda volta, suas montanhas de pedra, seus templos, seus campos de arroz, o rio, o céu azul de dia, estrelado à noite e sua simplicidade conquistam no primeiro olhar.

E Hampi é mágica, vou te contar um truque.

Fui almoçar no restaurante do Smiles e lá conheci um casal que me convidou pra uma jam session, eu disse a única coisa que se pode dizer diante de uma situação dessa: 

“-Partiu!!!"

Nos encontramos na frente da loja de instrumentos musicais do Gali com o resto dos músicos e fomos pro tal lugar onde ia rolar a jam. Ninguém sabia direito onde era ou o que era. Eu, que nem músico sou, estava indo também, todos rumo ao desconhecido. Ao chegar no tal pico foi simplesmente alucinante. Um lugar incrível, no meio do mato, cercado de vida selvagem. Fomos para uma caverna, mas não era qualquer caverna, era uma caverna com piscina e vista pro sol nascente. Uma parte era natural outra parte era construída. Era indecente. Uma afronta. Nosso anfitrião, Bobby se apresentou, nos deu as boas vindas e cerveja liberada (tinha água e refrigerante também, mas quem se importa?). A música começou. Com o tempo, conversando com o nosso anfitrião que nos oferecia o lugar, bebida e comida só porque ele ama música, descobrimos que ele é um ricaço que além de ser dono de uma boa parte de Hampi tem terras em vários outros lugares. Ele é um amante da natureza e tem vários projetos de proteção do meio-ambiente, proteção de animais em extinção, um cara super interessante. 

A tal da jam session rolando.

O tempo foi passando e a música parou para assistirmos ao pôr-do-sol de cima da pedra. . . Logo a música foi retomada. 
Eventualmente o Bobby nos ofereceu um jantar, éramos umas 20 pessoas e tinha comida pra todo mundo, eu até repeti, estava delicioso! A noite caiu e grande parte dos convidados foi embora, ficamos seis. Bobby, então nos convidou pra passar a noite por lá, ele insistiu, tinha lugar pra todo mundo, sem problemas. Ficamos. Ele fez questão de nos mostrar onde ficaríamos pessoalmente, pulamos no seu jipe e seguimos pela escuridão. Ele dirigiu pela estrada subindo e descendo, atravessou um lago e chegamos na primeira parada, o castelo. Depois fomos num outro lugar e mais um outro. Cada um mais incrível que o outro. Todos os quartos com banheiros enormes, camas confortáveis, coisa fina. Cada dupla pegou um quarto e fomos dormir.
Eu estava numa casinha na beira de um laguinho. Acordei a tempo de ver o sol nascer de cima do telhado, fiz umas saudações ao sol e estava pronto pra começar o dia. Logo aparece a Ann que é uma amiga do Bobby que estava na jam conosco. Ela me convidou pra ir nadar numa piscina natural, o que mais eu poderia dizer? 

“-Partiu!!!”

Tomei um banho naquela água morna com o sol nascente ainda tomando força e depois fui tomar café-da-manhã. Tudo por conta da casa. A Ann me levou ainda pra dar uma volta pela propriedade e que propriedade! De dia era ainda mais impressionante, vendo tudo de perto, WOW! Uma beleza de Hampi escondida, dentro de uma propriedade particular, um hotel, um resort para uns poucos abonados do Ocidente.
No fim das contas eu estava pagado 300rs pela minha cabana simples e passei a noite num super quarto de resort que custava uns 10.000rs por noite. O mais engraçado é que quem se hospeda lá não conhece nem metade do que eu conheci, sem falar na experiência da jam session que dinheiro nenhum compra. Mais magia que isso não dá.

Há quem diga ainda que eu conheci o meu tatuador em Hampi, um australiano maluco que vendeu tudo que tinha e está procurando um lugar mais interessante pra morar. Ele tem um estilo interessante com sua agulha de bambu e estamos trabalhando num design.
Aparentemente nossos caminhos se cruzarão daqui uns meses.

Acho que foi isso, moleque, Hampi foi um máximo, só fui embora porque eu tinha que ir ver o mar. A água salgada que corre nas minhas veias já estava secando.
Portanto, vá a Hampi! Vá com a sua gata (com ou sem sutiã), vá solteiro, arrume uma gata por lá, não arrume ninguém, mas vá! Não importa. A magia vai te tomar de assalto e Hampi te conquistará assim como conquistou tantos outros, assim como me conquistou. Não esqueça de dar um pulo na loja de música do Gali, vai que é dia de jam session.

Assim terminavam os dias em Hampi.

Se cuida por aí!

Um beijo do Dindo!

4 comentários:

  1. Uau Thi!! Alucinante.. quero ir a Hampi sem sutiã, óbvio! Vida livre e simples..
    Lindo!

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    1. Hampi é imperdível! Parece que tem um número limitado de sutiãs que podem entrar na cidade ao mesmo tempo... Você iria adorar!

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  2. Borrei o rímel... seios livres, now! Mto bom.

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    1. Hahaha! Sonho com um futuro bonito a nossa frente, Juju, cheio de seios livres!

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