sábado, 19 de dezembro de 2015

"Macacos me mordam, Batman!" Robin dos anos 60

Antônio,

Estou aqui em Rishikesh, uma cidade tranquila e calma na beira do Ganga que é como chamamos o sagrado Rio Ganges por aqui. A fina flor do relaxamento total e pleno, é ótimo aqui, o contrário da vida ocidental que o mundo escolheu viver. Pra você ter uma idéia nem álcool tem por aqui, é proibido, então tomamos chá que é quente e te faz ter que ir no banheiro igual cerveja. O hit desse inverno por aqui é o hot lemon ginger honey, sucesso total, não há quem consiga resistir.

Uma das coisas que eu acho muito legal por aqui é a convivência entre os animais que vivem aqui; vacas, cachorros, macacos, esquilos, ratos (pelas cozinhas), peixes, gatos (apenas 2 por enquanto) e até homens. Todos vivem juntos, dividem a cidade e os turistas, é bem bonito ver essa harmonia.

Os macacos são muitos e são bem espertos, ficam pulando de galho em galho, de galho em telhado, de galho em ponte. Só tem um problema, eles são malandros demais!!! Sim, isso é um problema, meu caro, Antônio.

Edu e sua pipoquinha.

Esse da foto é o Eduardo Cunha, esse é mesmo o nome dele. Não digo isso porque ele deve ter roubado essa pipoca na maior cara-de-pau, possivelmente de um brasileiro honesto, não. Ele estava me dizendo que comprou a pipoca com uma grana suada que ele tem numas contas secretas na Suiça.
Eu perguntei:
-Mas se são secretas por que você tá me contando? A gente nem se conhece direito. . .
Ele respondeu:
-Não tem problema, são secretas, mas todo mundo sabe que eu tenho e não dá nada.
Esse é um exemplo de um macaco malandro demais.
Depois que conversei com ele fiquei com uma sensação estranha, mas minha carteira ainda estava no meu bolso, então segui adiante.

Eu, adoro frutas, o alimento vindo direto da natureza, pronto pra mandar pra dentro, uma das minhas favoritas é a boa e velha banana. Coincidentemente é também uma das favoritas dos macacos. Esses dias eu passei numa barraca dessas de rua e tinha um garotinho de uns 11 anos trabalhando, vendendo bananas, fui lá e comprei algumas. O garoto colocou num saquinho transparente e me entregou. Eu estava com uma mochilinha nas costas, mas não me passou pela cabeça guardar as bananas. Eu me sinto em casa aqui e isso era normal em Barna, sair de casa, compra minhas frutas de manhã e voltar. Eu estava fazendo o mesmo por aqui, comprei minhas bananas e seguia de volta pro meu albergue. Para isso era preciso atravessar a ponte por sobre o Ganga.

Ponte de Laxman Jhula sobre o Ganges.

Dá até pra ver um macaquinho ali em em cima, eu porém, tinha esquecido desse detalhe, afinal já dividíamos a ponte em harmonia por alguns dias.
Eis que durante minha agradável caminhada, me aguardando bem no meio da ponte de Laxman Jhula, lá estava um macaco me olhando nos olhos, bom, nos meus olhos e logo na minha sacola recheada de bananas maduras. Eu não tinha o que fazer, a ponte é estreita, tive que seguir em frente. Eu e ele travamos uma batalha de dança, eu fingia que ia, mas não ia, passava a sacola de uma mão para outra por trás das costas, giros e piruetas. As piruetas eram mais por conta dele. Passei por ele, talvez ele não estivesse assim com tanta fome, desistiu fácil. Continuei meu caminho dando risada e olhando por cima do ombro só por garantia.
Alguém me disse pra colocar as bananas na mochila, eu meio que ignorei, ia colocar no final da ponte, eu acho. Logo eu percebi que ignorar esse conselho valioso foi um erro. Ao chegar no final da ponte tinha uma gangue inteira de macacos me esperando, gritando, provavelmente comemorando, foi tudo muito rápido, nem sei se o Eduardo Cunha estava envolvido. Eu estava no larguinho depois da ponte, num lugar com bastante visibilidade, bem debaixo do German Bakery, um café famoso com várias cadeiras com vista pro Ganga geralmente, mas nesse dia era eu que dava o show. Logo eu estava cercado por dois ou três macacos, achei que eu ia me safar como eu tinha feito na ponte. Esses macacos, entretanto eram mais organizados e abusados também, num piscar de olhos um deles estava agarrado na minha calça e não soltava por nada, nessa hora eu estava com os braços esticados pra cima tentando salvar as minhas bananas. Honestamente eu não sabia o que fazer e estava ficando preocupado, vai que o macaco sobe em mim e me machuca, eles têm dentes e unhas afiadas, vai que ele arranha esse meu rostinho tão bem feito pela minha mãe, vai que ele mexe na minha barba! Eu cheguei a pensar em pegar uma banana e jogar pra longe como distração, mas não foi necessário, não deu tempo, veio alguém e me salvou, espantando os macacos.
Ufa!
Sobrevivi sem nenhum arranhão, guardei as bananas na mochila e segui meu caminho. Fiquei feliz por ter proporcionado uma distração para os turistas e para os locais que ali estavam, aqui nunca acontece nada. Pode ser até que eu vá parar no YouTube!

Então, moleque, preste atenção, são três lições importantes pra você hoje:

1. Onde quer que você esteja, nunca confie no Eduardo Cunha;
2. Na Ásia (não só na Índia), quando você comprar bananas, coloque logo na mochila;
3. Não esqueça dos óculos de sol, se eu não estivesse usando os meus, o macaco teria visto o medo e o desespero nos meus olhos e o desfecho, com certeza teria sido outro.

Vou indo nessa, amanhã tenho yoga de manhã, domingo aqui é só mais um dia.

Se cuida por aí,

Um beijo do Dindo!

4 comentários:

  1. Valiosos conselhos! Vou também tomar nota!

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    1. Vai anotando, mas já vou adiantando que muitos deles você que me ensinou.

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  2. Achei que malandros com Eduardo Cunha só existisse no Brasil��... Se cuida!

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    1. Eles estão em todos os lugares, precisamos estar atentos sempre, Lu.
      Estou me cuidando, no te preocupe, guapa!
      Beijo!

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