sexta-feira, 15 de abril de 2016

As pipas e a experiência de quase morte




Antônio,

Eu ia escrever um post dizendo que a lição era pra você nunca ficar doente, como eu costumo fazer, mas aí lembrei que você é filho do seu pai. Ele, além de estrear a enfermaria da EFOMM, uns anos mais tarde teve lá sua foto com nome na moldura do funcionário do mês, ele passava mais tempo lá que os enfermeiros.
E além do mais, fiquei doente.

Tudo começou em Pushkar, era o dia do Festival de Pipas!!! Um dos maiores do Rajastão.
Eram umas cinco e meia da manhã e já tinha uma música rolando e a criançada (incluindo vários adultos) já tomava conta das lajes e terraços com suas pipas no alto colorindo o céu do deserto.
Eles estavam prontos bem antes de clarear e foi dia de pipa.

A molecada entregando pipas para a molecada de 30 e poucos.

Além dos pipeiros empinando suas pipas tinham também os "pegadores de pipa" (?), que corriam atrás das pipas voadas por toda a cidade. Eu sou bem melhor nessa categoria, que é considerada por muitos uma arte menor, o que não é verdade. Perdoe-me pois me falta até o vocabulário pipeiro, meu talento é quase nulo para esta arte milenar.
Eu queria mais uma vez representar o meu país num evento internacional. Representei. Minha participação foi bem pífia, é verdade, mas minha entrega foi maciça, entreguei até a saúde.
O ar empoeirado e seco do deserto podem também ter tido alguma participação nessa armação para me derrubar. Nesse dia também teve muita fumaça, um dia inteiro de fumaça.

Belo trabalho correndo atrás das pipas voadas.

No dia seguinte, uma sexta-feira eu acordei meio mal, nada preocupante, uma tosse chata. Bom, chata pra mim, que tossia o dia inteiro. Os dias passaram e a tosse seguia, logo vieram uns calafrios, e minha temperatura desregulou, fiquei mal. As meninas logo se preocuparam, uma mulher francesa (que eu nem sei o nome até agora) me viu mal e veio me aconselhar, me mandou tomar logo alguma droga, ela me sugeriu paracetamol e ibuprofeno, mas você sabe que não é pra tomar essas duas juntas, comecei a tomar paracetamol. A temperatura em Pushkar oscilava bastante com o passar do dia, ao meio-dia muito calor, no pôr-do-sol muito frio, nada parecia estar a meu favor. Fiquei derrubado, de cama, fraco. Se não fossem as meninas que estavam comigo eu teria passado uma experiência realmente traumática. Enquanto eu estava doente, elas me levaram chá e sopa na cama, controlaram minha temperatura, se eu estava tomando o remédio direito, se eu estava melhorando, tudo. As mulheres tem esse instinto para cuidar de nós, pobres homens moribundos, é algo inerente da mulher, um instinto maternal, talvez. O que eu acho lindo, as mulheres são mesmo espetaculares.

Acabou que já fazia mais de uma semana que eu não estava bem, tinha altos e baixos, mas não melhorava de uma vez, tive que ir no médico. No médico! Nessa altura eu já sabia o que eu tinha devido à consultas a um guia médico de viagem de uma amiga e tinha acabado de começar a tomar antibiótico, fui no médico só pra garantir. Ele confirmou tudo e me mandou seguir na amoxicilina. Foi aí que eu comecei a me recuperar totalmente. Agora já estou sendo incrível outra vez, esta sim é a melhor opção.

Seriedade acima de tudo.

Às vezes, porém, o corpo perece e caímos doentes, aconteceu comigo e vai acontecer com você, é inevitável. O importante é estar bem preparado para quando esse dia chegar. Agora pra você é muito fácil, você tem a sua mãe que vive por você o tempo todo. Essa será sua melhor opção sempre, pra cuidar de um filho doente elas fazem de tudo. Daqui uns anos, você vai conhecer outras mulheres que também vão querer cuidar de você e no dia que você cair doente são elas que você vai procurar, não mais a mamãe. Então, seja safo, fique doente quando você tiver a sua gata por perto pra cuidar de você, pra te fazer um chá pra te esquentar de manhã depois de te esquentar toda a noite com um abraço infinito. Ver a cara de preocupação que ela vai fazer já te faz melhorar! Com a sua gata por perto você vai quase gostar de estar doente.
Seja mais esperto que eu que resolvi ficar doente no deserto indiano e sem trazer uma gata comigo, apenas meia dúzia de remédios (que uma AMIGA me aconselhou sabiamente). Muito mal planejado, mas meu time de apoio, as minhas amigas de viagem, assumiu essa tarefa e cumpriu a missão, estou ótimo.

Portanto, com esse post você preste a atenção, além de só ficar doente com a namorada por perto, procure outro mestre de pipas.
Não esqueça bom mesmo é não ficar doente, já damos trabalho demais para nossas mulheres enquanto sãos.

Aproveita e escuta essa versão do Caetano para a famosa Help dos Beatles. Ilustra bem bem como eu me sentia nos meus delírios à beira da morte (sempre que ficamos doentes estamos à beira da morte). É bem mais depressiva que a animada versão original, ótima para moribundos longe de casa. E o violão é super bonito.



Se cuida por aí!
Um beijo do Dindo!

Foi dia de pipa.


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