sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

Minha primeira viagem de moto (parte I)

Antônio,

Tenho que te contar sobre o meu último passeio de 2015. Um passeio sobre duas rodas. O destino: Kunjapuri Temple, no alto de uma montanha de onde se podia ver o Himalaia!!!

Claro que antes de o passeio começar eu não sabia de nada disso, a galera que está aqui comigo correu atrás e eu só disse que ia, não me importava muito pra onde, o caminho, às vezes, é mais importante que o destino final. E claro, eu estava super animado em finalmente dar uma volta de moto e começar a minha carreira motociclística aqui na Índia foi especial.
Éramos cinco, 2 meninas e 3 meninos, alugamos 3 scooters, uma branca, uma cinza e uma negra.

Nossas três máquinas poderosas. Retrovisor pra que? Seguimos sempre adiante.
Pagamos 300 rúpias (18 reais) pela diária, super barato! Os preços por aqui são inacreditáveis.
Eu tive uma aula teórica de uns 40 segundos e estava pronto para me aventurar nas estradas, pontes e ruas e vielas indianas, por entre carros, tuc-tucs, motos, ônibus, caminhões, vacas, pessoas e outros animais.
A viagem tinha tudo para correr bem, tínhamos um mapa desenhado indicando o posto de gasolina, sabíamos dizer o nome de onde queríamos chegar e todos tínhamos capacetes. Melhor impossível!
Como a minha aula foi bem curta e tinha que cobrir vários pontos, eu não sabia dar a partida na moto, o que não foi um problema, eventualmente ela ligou sozinha.
Saímos de Laxman Jhula e cruzamos a ponte lotada de pessoas e, claro, macacos. Tudo correu bem, sem atropelamentos ou acidentes. Fomos ao posto de gasolina e enchemos o tanque! Um prazer cada dia mais difícil aí no Brasil.
Estávamos prontos para seguir com a nossa aventura, subir a montanha sobre duas rodas pela estrada passando por lugares incríveis. Essa era a minha expectativa, ingênuo que sou. Foi muito melhor que  qualquer coisa que minha imaginação já criou!
Como eu era o mais inexperiente, fui sozinho. Já era responsabilidade bastante eu sozinho numa moto. Seguimos para cima, deslizando pela sinuosa estrada que nos levaria ao nosso destino. Quando a moto estava ligada era bem fácil de guiar, meus anos de experiência com bicicletas me ajudaram muito, meu talento é inato. A estrada era surpreendentemente boa, asfalto razoavelmente liso e com sinalização uma vez ou outra. Seguimos em frente e fomos seguindo o conselho do Buzz Lightyear: "Ao infinito e além!"

Juan e Vane posando no primeiro plano enquanto Késhava e Julia sobem ao nosso encontro.

O trânsito era pouco, alguns carros, uns ônibus e caminhões em sua maioria. Com essas condições favoráveis subíamos com rapidez e perícia. E foi libertador! Eu tinha minha própria buzina agora! Esse detalhe importante, porém, não era o principal. A sensação que invadiu o meu corpo era incrível, não me cabia, eu gritava em êxtase! O vento me atravessava o corpo de uma maneira inédita, eu era o vento. Observando todos os detalhes a minha volta eu entrei em contato com tudo, com os caminhões multicoloridos quase psicodélicos, com as árvores, com a montanha, com o sol. A estrada seguia em volta da montanha, ora na sombra onde era frio, ora no sol onde era mais quente, não sei onde era melhor, eu só queria seguir adiante, sendo o vento que uivava em direção à China (que estava a apenas uns 200 km de distância).
Guiar uma moto nessas condições foi uma das coisas mais alucinantes que eu já fiz, de todas as besteiras que eu já fiz (até agora), esta foi uma das mais viciantes, seguramente será repetido muitas vezes.
Tenho um camarada, o Howard, que me diz pra irmos de moto do Rio até Ushuaia, mas ele inventa mil desculpas pra não ir, talvez eu vá sem ele. . .

Meu camarada, Howard, quando ainda era magro e tinha cabelo.

Seguimos nosso caminho e fizemos uma parada técnica para um chai, tudo aqui é motivo para um chai, o chá tradicional por aqui. A receita varia, mas geralmente leva chá preto, pimenta do reino, gengibre, canela, cardamomo, água, leite e açúcar (não necessariamente nessa ordem); é um abraço de beber, quente e aconchegante.

Parada técnica para o bom e velho chai.

Já estávamos perto do nosso destino final, cada vez mais íngrime era a estrada, até que nos metros finais a minha moto não aguentou (ou o piloto era muito ruim mesmo) e por uns vinte metros a moto seguiu empurrada por um brother local que me ajudou enquanto eu gargalhava de felicidade.
Chegamos no templo, ele era pequeno e simples como muitos por aqui. A vista de lá de cima era mágica e calma, no entanto, a energia do Himalaia vibrava por todos os lados e logo assistiríamos o sol se pondo.
Além da cadeia de montanhas do Himalaia podia-se ver Rishikesh e o Ganga lá embaixo e olhando na direção certa podia-se já ver a China!
Assistimos à puja que é um ritual de oferenda, geralmente em honra ou adoração e pagamos nosso respeito às tradições. Com o sol já baixo a temperatura caia rapidamente, portanto tomamos mais um chai para aguardar mais um espetáculo da mãe natureza.

Uma janelinha.

O sino da entrada do templo de Sri Kunjapuri.
O sol se pôs, foi uma visão sublime, as cores, o vento, as nuvens, a energia, tudo era perfeito e além do mais depois da nossa grande aventura ter corrido bem, sem acidentes, só de alegrias, parecia o melhor jeito para terminar o dia. Mas haveria mais!

O sol sublime em sua submersão no horizonte suspenso da Índia.
Um pôr-do-sol que me fez lembrar do mar.
O sol se pôs, enfim.
A vista da nossa varanda um pouco mais tarde.

Depois de chais e mais chais fomos buscar onde comer e dormir. Só havia uma única opção e lá fomos nós, descolamos uns quartos alucinantes com vista pra Rishikesh sob a luz do crepúsculo multicor. Havia um pequeno problema, porém. O único restaurante do lugar estava fechado e nossa última refeição tinha sido o café da manhã!!! Esse problema não durou muito, logo foi solucionado, temos um bom karma afinal. O Sr. M.S. Rawat, que era o dono dos quartos e do restaurante fez questão de abrir seu pequeno estabelecimento e cozinhar pra todos nós. Ele sozinho cozinhou pra nós e pra ele um thali com tudo feito na hora e o melhor de tudo, com um sorriso enorme no rosto!
A comida ficou pronta e foi uma das melhores refeições das nossas vidas.


A cozinha do Sr. M.S. Rawat.

Vane dando uma mão na cozinha, ajudando com o chapati.

O nosso thali preparado com a mão e o coração.

Depois de comer voltamos aos nossos quartos e da varanda desfrutamos mais um pouco da vista, agora já iluminada pelas estrelas e pela lua minguante. Num silêncio absoluto guiados pela inspiração do Késhava meditamos e direcionamos nossas energias aos nossos entes queridos, você deve ter percebido. No final, cantamos o mantra OM, a sílaba original e terminamos o dia com um abraço de cinco onde compartilhamos nossos melhores sentimentos uns com os outros. Fomos dormir para esperar o sol nascer no último dia de 2015.

A história, Antônio, pode ter sido comprida, mas a lição será curta. É uma lição sobre motocicletas. Claro que eu não vou dizer pra um guri que está completando um ano de idade hoje para comprar uma moto porque é um máximo, claro que não! Se eu o fizesse minha mãe viria aqui puxar a minha orelha, a sua mãe, suas avós, sua madrinha e minhas amigas que são mães também viriam. É incrível como as mulheres quando se tornam mães adquirem o direito de puxar a orelha de todo e qualquer tipo de menino levado, não importando a idade. Então, pelo bem das minhas orelhas, eu digo que a lição de hoje é: motos são perigosas. Você é um garoto esperto e vai entender a verdadeira lição de hoje.

Se cuida, moleque, aproveita a festa mais tarde, já tomei um chai em sua homenagem.
Um beijo do Dindo!

A equipe, dos pés à cabeça, com um sorriso no meio, é claro!
Agradecimentos especiais à equipe que participou dessa aventura, sem vocês não teria acontecido. Muchas Gracias Julia, Vanesa, Juan y Késhava!

4 comentários:

  1. E eu achando que vc tinha escalado a montanha.
    Sinta o puxão de orelha agora.

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    1. Foi tudo super controlado, mãe! Somos muito responsáveis. =D

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  2. Seu lindo! Rabellinho sempre prometendo as coisas.... Bjus

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    1. Vamos aguardar pra ver quando ele vai parar de prometer e vai começar a cumprir. . .
      Beijo, Bia!!!

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