sexta-feira, 3 de junho de 2016

Minha flor chamada Jasmin


Uma flor no parque.

Antônio, 

Estamos em 2016, pra você logo será passado, pra mim ainda soa como futuro. Em nenhum momento da minha vida eu imaginei o que estaria acontecendo em 2016. Eu nasci nos anos 80, tenho lembranças claras dos 90, há mais de 20 anos! Esses dias estava chovendo e a piada era que a volta pra casa na chuva ia ser estilo Ayrton Senna, meu ídolo do automobilismo que se foi em 94, antes da Copa do Tetra. Lá naquela época longínqua o ano 2000 já era um futuro distante, imagina agora, 2016!!! Apesar de não pensar em nada para esse futuro diretamente eu tinha alguns pensamentos gerais sobre o futuro. Pensava sobre os avanços da tecnologia, sobre minhas futuras viagens hipotéticas. Eu, naquela época, nunca pensei no futuro da sociedade, das relações humanas, isso não me dizia respeito. O mundo era bom e seguia seu caminho para melhorar, não precisava de mim, eu tinha que cuidar das minhas besteiras.

Eis que aqui nesse futuro, além das milhões de coisas que vem acontecendo, retrocessos na política do nosso querido Brasil, o caminho para a paz sendo interrompido pela violência e o ódio contra tudo e todos, a última notícia trágica é a do estupro coletivo de uma menina por 33 homens. Estupro coletivo é uma coisa nova pra mim e que eu achava que era coisa de extremista islâmico, nada contra o Islam que eu acho uma religião linda, mas é o que a mídia seletiva enfiou na minha cabeça sem eu querer e sem eu ver.
Do mesmo jeito, essa mesma mídia me ensinou tudo sobre o machismo e eu aprendi direitinho.

Na minha adolescência eu vivi por essa doutrina. Eu não entendia como uma gata que tinha namorado poderia estar sem ele numa festa. Eu escutei isso várias vezes e a minha reação era a mesma, surpresa e incredulidade. Umas vezes tinha mesmo um namorado em casa (ou em outra festa...), muitas vezes era mentira, não tinha namorado nenhum, outra coisa que eu não entendia era essa mentira pra mim, um cara educado, com os olhos vermelhos, um copo de vodka na mão e outro na barriga… Nada como uma mentirinha marota pra se livrar de um bêbado chato, no caso eu. Elas sabiam o que um cara bêbado pode fazer, eu, enquanto bêbado, não sabia. Passados os anos eu vi caras bêbados dando socos em gatas por nada ou porque elas disseram não, o que é a mesma coisa. Um homem é feito de nãos. Os nãos me ensinaram a eventualmente escutar um sim. É claro que naquele momento, bêbado e trocando as pernas eu não percebia isso, mas hoje é fácil de perceber que cada sim que eu escutei foi fruto de muitos nãos. Em vez de dar socos, esses caras tinham que dar graças, pensar melhor e ouvir o sim de uma outra.

Demorei anos e anos pra entender essa necessidade das mulheres de sair sem o namorado, de sair pra dançar, de sair pra tomar todas, de ser livre. Hoje eu entendo, hoje eu saio pra dançar com elas!

Durante essa viagem conheci um monte de gatas. Várias, de diferentes cantos do mundo, com orientação sexual diversificada, de cores diferentes, cada uma na sua viagem. Umas saiam pra dançar, outras saiam pra meditar, outras saiam pra fazer yoga, outras saiam pra mergulhar, outras pra surfar, outras pra beber, teve de tudo um pouco.
Umas foram viajar com o namorado, outras sem. Não tô falando daquela viagem de fim de semana pro evento da empresa, estou falando de viagens de uns meses, de vida intensa, conhecendo pessoas diferentes diariamente, completamente livre. 


Onde o acroyoga e a Thai Yoga Massage se encontram.

A mais marcante dessas mulheres foi a última, a Jasmin, que apesar do seu nome de flor provou ser uma mulher forte e decidida. Para mim, a  Princesa Austríaca (the Austrian Princess), para o mundo uma farmacêutica interessada em acroyoga e Thai Yoga Massage, dentre outras coisas. Nos conhecemos na inscrição do curso de massagem, tomamos um batido de coco que veio errado e selamos nossa amizade juntamente com a Marie, a Princesa Francesa (the French Princess). Ah, o meu codinome: The Mexican (mas isso é uma outra história).


A partir daí fomos nos conhecendo, estávamos no Vilarejo Lahu convivendo diariamente, desde as 6 da manhã até as 10 da noite, meditando, fazendo yoga, massagem, dividindo as refeições e sem internet, o foco era mesmo no ali e no agora.
Tivemos uma conexão imediata, não sei bem explicar o que é, mas a gente se gostou sem muitos motivos, isso acontece com algumas pessoas de vez em quando, pode ser algo de uma outra vida, pode não ser. As energias bateram. Mesmo depois de eu quase matá-la numa manobra de acroyoga mal-sucedida nossa relação não mudou. A cada dia que passava mais eu gostava dela. Quanto mais a gente conversava, mais eu gostava do namorado dela, ele é um cara incrível que me deu várias ideias para o futuro… 


As duas princesas.

Em nenhum momento passou pela minha cabeça me meter naquela relação deles, não é porque ela viaja sozinha que me dá o direito de assumir que ela está em busca de aventuras sexuais ultra-continentais. Muito pelo contrário, hoje quando eu vejo uma história dessas de liberdade na relação eu respeito dobrado, admirado e feliz por eles. E foi isso que eu fiz, tudo o que eu queria dela era a companhia, as conversas, as risadas, uma massagem de vez em quando e um ou dois abraços,pelo menos, por dia. O abraço da Jasmin é um dos melhores que eu já tive o prazer de experimentar. Ela com certeza estaria convocada para o meu hipotético time de distribuição de abraços grátis. No time titular e com a camisa 10.

Nessa condição, tinha gente que via o nosso relacionamento e pensava que eu estava tentando alguma coisa com ela, tinha gente que pensava que eu estava tentando alguma coisa com a Marie também! Estou falando de mulheres, mulheres da Europa, o Velho Mundo, que, por conta da nossa cultura machista espalhada ao redor do globo, não podiam conceber uma amizade genuína entre homens e mulheres.
Era mais fácil entender que eu estava dando idéia em duas amigas ao mesmo tempo que entender que a gente era brother. Eu também passei muito tempo sem acreditar nisso de amizade entre homens e mulheres, hoje minhas melhores amigas são mulheres, independentes, decididas, inteligentes, engraçadas, interessantes mesmo. Umas com namorado, outras com namorada, outras não, todas incríveis. É alucinante ter uma conversa honesta com esse tipo de gente, saber das durezas e dificuldades de ser mulher e das belezas também. A Jasmin é dessas, ou seja, das boas. Nossas viagens seguiram em frente, nos separamos e agora eu sinto falta dela, mensagens virtuais não são o suficiente, abraço é presencial.

Agora eu penso sim no futuro, mas não tanto no meu com as minhas besteiras, eu penso no seu futuro e desejo que ele seja repleto de Jasmins e outras flores raras. Um imenso jardim onde essas flores não sejam mais tão raras, um jardim onde elas cresçam livres e lindas com suas cores e seus cheiros únicos. Que nesse jardim você possa caminhar pela grama sem pisar em nenhuma delas, onde você possa observá-las, admirá-las, encher os pulmões com seus perfumes inebriantes e encher os ouvidos com suas ideias mirabolantes. E que um dia, nesse imenso jardim você um dia encontre uma que te faça ter as mesmas reflexões que teve o Pequeno Príncipe sobre a sua rosa.
Saiba que é da natureza de algumas flores ter espinhos, tente entender a natureza de cada uma delas, espinhos são necessários para sobreviver nesse terreno árido da incompreensão onde as vítimas são culpadas. Que as princesas da Áustria, da França, do Brasil e de todo o mundo se tornem RAINHAS das suas próprias vidas e saiam pra dançar, pra viajar, distribuindo amor, abraços, massagens e o que mais elas quiserem.

Também penso um pouco no meu futuro, no meu futuro próximo onde eu vou encontrar a Jasmin num verão, finalmente vou conhecer o Sacha, dar um abração nele e trocar altas idéias com ele também. Faremos acroyoga e há quem diga que eu a devo uma massagem...


Se cuida por aí,
Um beijo do Dindo!

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