segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

A primeira de amor (ou tê tê tê tê tê tê tê)


Primeira visão do Taj Mahal em meio a neblina da manhã, um cemitério mal assombrado.

Antônio,


"Foi a mais linda história de amor”, com essas palavras o gênio Jorge começa aquela canção que deve ter tocado muito por aí, afinal era carnaval. Já faz um tempo que eu não a escuto, nem deve ser tão cedo, a previsão é só no casamento da Karina.
Enfim, fui visitar o tal do Taj Mahal que também é conhecido por ser a maior prova de amor de todos os tempos. Eu sempre achei isso um pouco exagerado, nós homens temos essa mania de competição que eu não sei bem de onde vem. Vale lembrar que o Taj Mahal, é um mausoléu, uma tumba, um cemitério. O cemitério mais visitado do mundo e onde descansam apenas 2 corpos. Shah Jahan e sua amada esposa favorita Arjumand Banu Begum.
Um pouco de história, já que conhecimento nunca é demais. Reza a lenda que Arjumand morreu ao dar a luz ao décimo quarto filho do casal, décimo quarto! Shah Jahan ficou arrasado, seus cabelos se tornaram grisalhos da noite para o dia. Ele então resolveu fazer uma homenagem póstuma à sua tão querida esposa mandando então construir o mais alucinante mausoléu para ser sua última e eterna morada terrena. Todo em mármore branco translúcido o Taj levou mais de 15 anos para ser completado as custas das mãos e do suor de 20.000 “voluntários”. Artesãos de todo o império foram levados a Agra para participar da construção. 

São incontáveis as coisas que nós, homens, somos capazes de fazer (e às vezes fazemos) por nossas amadas mulheres. Nem todas da magnitude de um Taj Mahal, nem todo mundo tem recursos infinitos como o Imperador Shah Jahan. . . Todas, no entanto, tem o seu valor.
Eu tenho certeza que há por aí provas de amor secretas que rivalizam com Taj. As pequenas coisas podem ser realmente encantadoras.

Mais de perto melhorava o visual e o frio não dava trégua.

Por exemplo:

Quando você tiver a sua gata, você vai aprender qual música ela mais gosta. Vai aprender se ela gosta d’O quereres ou da Tigresa do Caetano, ou se ela gosta mesmo do Corazón Partío do Alejandro Sanz, ou ainda se ela gosta do já saudoso Bowie ou do novo e rouco Liniker que com sua malinha mão vem roubando corações de muitas gatas desavisadas recentemente.

E você vai aprender a música, gostando ou não, querendo ou não, quando você menos esperar o Caetano estará martelando cada palavra da sua poesia louca e você vai prestar bastante atenção, porque afinal você acredita que vai descobrir algum segredo sobre a sua gata (e às vezes descobre mesmo!). O Caetano só vai te dar uma folga quando você escutar a música doce que sai dos lábios dela, nessa hora você não escutará mais nada, só ela.

O tempo finalmente abriu.

Você vai aprender todos os detalhes sobre aquele corpo desenhado tão delicadamente pelo mais talentoso artista. Você vai querer aprender a cor exata daqueles olhos, isso pode demorar, ela vai se envergonhar com o seu olhar de admiração tão curioso lá dentro dos olhos dela e vai te perguntar: “-O que?” e te dar um abraço.
Você vai saber onde ela tem a cicatriz da catapora que ela teve anos atrás, você vai saber se é aquela quase no meio das costas ou aquela outra no nariz. Você ainda vai escutar as histórias de infância sobre cada cicatriz que ela tiver, histórias simples e às vezes bobas, que você vai achar lindas, afinal elas falam sobre a beleza da ingenuidade da sua mulher enquanto menina. Você vai conhecer cada pinta daquela corpo, as que ela gosta e as que ela diz que não gosta. E você vai gostar de todas!
Você vai descobrir a comida favorita dela. Você vai saber se é um prato exótico daquele restaurante famoso ou se é uma mistura simples e até meio estranha numa cumbuquinha. 


Eu e o Taj.

Agora, caso você esteja se perguntando como você vai aprender todas essas coisas, é muito simples; ela vai te ensinar tudo, pessoalmente. E você, que eu espero que tenha uma queda por matar aula e fugir da escola, se tornará, de repente, um aluno aplicado, você vai querer saber mais e mais, você vai querer saber tudo! É desesperador.
Só haverá uma pessoa capaz de aliviar esse desespero e ela vai te ajudar.
Ela te dará todas as pistas, você apenas vai cuidadosamente seguir o mapa e no final encontrará o tesouro guardado só pra você.
Quando você tiver esse tesouro nas mãos, você deve guardá-lo no único lugar possível, o cofre que fica no lado esquerdo do peito que chamamos coração. E mande logo fazer uma cópia da chave para que ela possa entrar e sair nesse cofre quando quiser.
Nesse ponto você vai saber que ela merece um Taj Mahal todos os dias, alguns dias até dois ou três. 


Turbante do Shah Jahan em Udaipur.

Agora, não espere a sua gata morrer pra construir o seu Taj Mahal. Siga o exemplo do Shah Jahan, que sim, construiu uma obra de arte sem igual que a sua amada esposa nunca veria pessoalmente, mas ele sempre a chamou Mumtaz Mahal, que significa “a jóia do palácio”.
Não sei se você vai ser do tipo que constrói um Taj Mahal que é uma das 7 maravilhas do mundo e que foi visitado por 3 milhões de pessoas em 2015 ou se você vai ser mais discreto e suas provas de amor serão apenas visitadas pela mesma pessoa, não importa, não deixe pra quando já for tarde demais.


Antes de ir embora. Qualquer dia eu volto..

Ah! E eu, no seu lugar já começava e escutar o Caetano desde agora, vai que a sua gata gosta d’O quereres, essa é difícil de aprender. . . E nem venha com a ingenuidade de dizer que Caetano será coisa de velho quando você encontrar sua namorada, poesia e música boa não envelhecem, meu caro. O Caetano não é, nem será coisa de velho em tempo algum. E caso a sua gata não o conheça, você mostra pra ela, é uma via de mão dupla, você também terá coisas pra ensinar.

Fique com o som do bom e velho Jorge pra animar:



Se cuida por aí!

Um beijo do Dindo!

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Carnavalize-se!

Antônio,

Eu amo o carnaval. AMO. Um feriado onde eu posso tomar cerveja no café-da-manhã sem ninguém me censurar, posso usar minha saia do CPII (super curta!) sem ninguém me censurar, tudo é sem censura, como não amar?
Você não imagina como é difícil estar longe do que você ama. No meu caso, foi uma escolha. Ainda pior. O meu amor pelo carnaval, porém, é maior que essa separação temporária, muito maior. Levo sempre o carnaval onde eu vou e logo voltaremos às boas, eu e o carnaval.

É carnaval e você ainda não tem idéia do que isso significa, nem idéia. Você vai crescer e vão te ensinar errado. Não por maldade ou qualquer coisa assim, simplesmente por pura ignorância, muita gente também não tem idéia do que é o carnaval.
Eu mesmo demorei uns 24 - 25 anos para entender a beleza desse feriado tão maluco.
Bem novo, ainda sem saber muito o que estava acontecendo eu já frequentava os bailes de carnaval todo fantasiado, eu me lembro de quando eu fui no baile do Tijuca de Seu Boneco, que diversão. Naquele tempo eu só queria saber da festa, isso me bastava.
Um pouco mais tarde, na sempre conturbada adolescência, eu esperava pelo carnaval no calor do verão carioca, os blocos mais tradicionais já saiam, mas não era essa loucura que está agora. Eu queria sair com os blocos, participar das festas, mas minha mãe, muito zelosa não me permitia esse tipo de extravagância, eu tinha que aceitar as regras. . .
Já um pouco mais velho, comecei a participar mais intensamente, já tinha minha grana e um pouco de liberdade, viajava para passar o carnaval em algum lugar diferente onde meu único objetivo era beijar meninas desconhecidas, o máximo possível. O que além muito de chato, é muito cansativo. E além do mais você nunca se dá por satisfeito, se o seu objetivo são beijos infinitos, você nunca vai atingí-lo, deixando sempre uma sensação de quase derrota no final. Só existe uma maneira de ter beijos infinitos e pra isso você só vai precisar de uma gata, mas essa é uma outra história que um dia eu te conto.
Voltando ao carnaval.
A minha iluminação com relação ao carnaval veio lá no Recife. O Juliano me convidou pra ir conhecer o carnaval do Nordeste e fomos pra Recife. Ficamos hospedados na casa do Fredão, na frente do Estádio dos Aflitos onde eu sempre fui pra ver o Náutico golear!
Eu nem ia ficar o carnaval todo, só as prévias que são ainda melhores que o carnaval em si. Eu já tinha tudo pago em Ouro Preto, mas a república cancelou na última hora, foi simples de resolver, troquei meu vôo e fiquei no Recife. Onde eu conheceria o carnaval de verdade.
Blocos como "Enquanto isso na Sala da Justiça", "Eu acho é pouco", "Quanta ladeira" e tantos outros me mostravam a beleza do carnaval, o comprometimento dos foliões com fantasias elaboradas, planejadas meses antes do carnaval. Foi uma das coisas mais bonitas que eu vi aquele ano. A beleza do carnaval de Recife e Olinda. O Alceu, a Elba, Zé Ramalho, Mundo Livre, Nação, Eddie, a chuva invocada por Lirinha e todo o Cordel do Fogo Encantado, o cara paraplégico de verdade fantasiado de Aline Moraes (que estava paraplégica de mentira, na novela), as mulheres do Nordeste tão lindas e ainda mais com seus sotaques tão deliciosos, o Lassa Burguer, os casados, os solteiros, as piadas, aquele time de gatas que chegou no apê do Fredão fantasiado de Halls, uma de cada cor e de cada sabor perguntando: "-Aqui é o apê do Fred?" E eu de toalha dizendo que sim. . .  E eu nem falei da coisa mais importante que eu percebi lá a primeira vez, aquele sorriso de alegria plena estampado na cara de cada uma das pessoas que estavam em Olinda, no sol, subindo e descendo ladeira com alegria de menino, aquilo era o carnaval. Foi quando eu vi, Antônio, eu também queria ser o carnaval e eu fui o carnaval. Eu também levava aquele sorriso no rosto, eu era parte daquelas pessoas, éramos todos o carnaval e foi maravilhoso. Já não importavam mais os beijos das mulheres, só as piadas, as gargalhadas, os beijos aconteciam, fazia parte de ser o carnaval, não era mais um devaneio adolescente.
O cara que eu conheci que mais sabia desfrutar do carnaval era o Arnóbio, ou Binho para os íntimos e todos os outros. Eu passei dois carnavais com ele. Ele sempre casado e sempre, sempre, respeitando sua mulher e todas as outras ele fazia piada com todo mundo, homens, mulheres, solteiros, casados, gordos, magros, pretos, brancos, não tinha exceção. Seu leque de piadas era sem-fim e ele se divertia mais que criança. Um artista que me ensinou tanto sobre carnaval em tão poucos dias. É claro que eu aprendi com os outros camaradas também, mas o fato do Binho curtir o carnaval casado e se divertir muito mais que nós, solteiros, me admirava. E sua dedicação na decoração do banheiro era digna de um prêmio, a cada dia com fotos inéditas de Revistas Playboy antigas.
O carnaval não tem nada a ver com mulher, isso nem importa se você não compartilhar da alegria plena que ele pode nos proporcionar, nos tornando iguais, ricos, pobres, pretos, brancos, todos sendo o carnaval, unânime, uníssono.
Se você ficar gastando a sua energia só correndo atrás das gatas você nunca vai experimentar o verdadeiro sabor do carnaval, eu demorei uns 25 anos, espero que você demore menos, mas entendo que curtir um carnaval com a ignorância adolescente pode ser divertido por um tempo. Mesmo nessa loucura adolescente, você terá flashs do verdadeiro carnaval. Fique atento aos sinais.

O tempo passou, O Binho segue casado e tem duas mulheres, uma da idade dele, a outra tá mais pra sua idade e até onde eu sei está sem namorado. . .
O Fredão tá grávido.
O Ju embarcado.
Eu na Índia.
O que interessa hoje é que eu desejo pra você, Antônio, pros meninos e pra todas as pessoas que eu conheço e que não conheço: sejam o carnaval!
Aproveitem bastante, beijem quem tiverem que beijar, mas principalmente, divirtam-se!
A quarta-feira de cinzas chega ligeira. Até demais, chegou antes de eu chegar na internet por aqui.
O post atrasou, mas ainda serve, ainda há carnaval no Rio que eu sei!

Sorte sua que eu também sou ligeiro e me agilizei pra não te deixar cotó. A sua fantasia de Indiano chegou a tempo, pensei em tudo, mas não se acostuma não, ano que vem eu estarei presente no carnaval e não vou poder ficar cuidando da fantasia da concorrência.

Antônio pronto pro bloquinho da creche com a fantasia ajeitada Made in India.


Se cuida por aí!

Um beijo do Dindo!